Parar para recuperar!

A edição impressa do Jornal da
Mealhada estará interrompida no próximo mês de janeiro. Continuaremos no
contacto direto com os nossos leitores através da edição on-line, na internet,
com atualizações diárias e em tempo real, mas a edição impressa regressará,
apenas, nos primeiros dias de fevereiro de 2012. Os nossos estimados assinantes
e anunciantes não serão prejudicados com a medida, que foi tomada pela gerência
com o apoio da direção e da redação, e todos os compromissos estão assegurados,
considerando poder ser recíproca a confiança e a honestidade de quem faz da
credibilidade e da verdade a sua missão diária, há 26 anos.

A medida resulta da necessidade de refletir e repensar o projeto, de
modo a garantir um futuro saudável e sustentável, num momento particularmente
difícil para todos, e especialmente no setor tão vulnerável às quebras de
investimento, de empresas e cidadãos, às prioridades utilitaristas da vida das
pessoas comuns e à saúde financeira das instituições – públicas e privadas.

O mercado editorial está
extraordinariamente dependente do investimento das empresas e dos empresários
em publicidade e, nos tempos que correm, não é prioritário esse gasto por parte
de quem sente tantos constrangimentos na sobrevivência de cada dia. Acrescem as
atitudes conservadoras da parte de quem até poderia ajudar, mas prefere
obstaculizar em nome de valores alegadamente simpáticos e igualitaristas, mas
na verdade nefastos e epidémicos. Como aditam os esforços maníacos concorrenciais
apostados na destruição de preços e mercados, no elogio do quanto pior, melhor
e do “teu mal faz-me tão bem”.

Por outro lado, uma publicação
como o Jornal da Mealhada – local, com milhares de assinantes em Portugal e no
estrangeiro – ressente-se, necessariamente, com a redução de apoios estatais –
como o chamado Porte Pago, o único instituto real e decente de promoção da
Língua Portuguesa junto da comunidade emigrante – e com a retração do consumo
das pessoas, com o enaltecer do discurso da poupança em bens culturais,
sociais, com o estímulo e o elogio ao utilitarismo serôdio – que faz a apologia
da economia parada e do dinheiro debaixo do colchão.

Sentimos necessidade de fazer uma
paragem – por um período não superior ao legal e normal usufruto de férias –
para pensar o projeto, avaliar o que tem resultado das prioridades
estabelecidas, refletir sobre o presente e o futuro dos nossos produtos (todos
eles) num mercado muito difícil, vulnerável – a fatores de toda a ordem – e que
está a passar por sérias dificuldades em todo o planeta.

Parar para refletir não é o mesmo
que parar definitivamente – antes pelo contrário. Paramos porque queremos
continuar a prestar um serviço, que outros, antes de nós, assumiram e do qual
nos sentimos herdeiros e, acima de tudo, legatários. Um serviço que se quer cada
vez melhor, cada vez mais próximo das pessoas, um serviço que o seja
verdadeiramente e cada vez mais cuidado.

Queremos indagar, procurar saber
de forma ainda mais rigorosa e determinada para onde vamos, o que poderemos dar
e, também – porque não reconhece-lo com toda a frontalidade – o que poderemos
esperar da comunidade que servimos.

Essa poderá ser, de facto, a
ideia que mais precisa de debate e de reflexão. De quem é e para quem é um serviço como o que é prestado, há 26 anos,
pelo Jornal da Mealhada?

O Jornal da Mealhada foi fundado
em 1985 por Fernando Queirós, um homem dos jornais, do norte do país, que, sem
fortes ligações à terra, promoveu a fundação do título que viria a ser editado,
pela primeira vez, a 10 de dezembro desse ano. Depois da experimentação de
vários modelos de organização, em julho de 1987, constituir-se-ia uma sociedade
por quotas – com quase duas dezenas de sócios – que, desde aí, sem nunca ter
tido qualquer propósito lucrativo – o título, que, desde cedo, e de modo muito
rápido, entrou no coração de uma comunidade que, nesse longínquo ano de 1987,
não tinha um jornal local seu há mais de uma década.

Mas, verdade seja dita, o Jornal
da Mealhada nunca foi, verdadeiramente, destas mais de duas dezenas de pessoas,
que também nunca se quiseram assumir como donos de um jornal, na verdadeira acepção
do termo. Nenhum deles – não que alguma vez o tivessem tentado – conseguiu
encarreirar ou condicionar o jornal a pretensões pessoais fosse de que natureza
fosse. A verdade que sempre se sobrepôs a isso é simples: O Jornal da Mealhada desde cedo se tornou uma património da comunidade,
um valor acima da personalidade, do estilo ou das preferências – estéticas ou
até mesmo ideológicas – de quem exercia, por exemplo, o cargo de diretor.

Dito de uma forma mais simples: O
Jornal é, desde há muito, dos mealhadenses – na acepção latíssima, e mesmo mais
do que concelhia, do termo.

Acontece que um jornal tem
custos, de produção (a gráfica que o imprime, por exemplo) e de expedição,
nomeadamente. E os preços de venda ao público e das assinaturas não cobrem
esses custos. Sendo propriedade dos
mealhadenses, interessa, então, refletir sobre o papel de quem se tem empenhado
– nomeadamente financeiramente – para que o jornal continue a ser editado
.
Um esforço que não pode ser inglório, que é naturalmente cívico e voluntário,
mas que é – especialmente em ambiente de retração económica – real, concreto e
que acarreta consequências pessoais, familiares, económicas e, até, jurídicas.

Até porque, convenhamos, a independência de um órgão de comunicação
social é, em larga escala, de natureza económica, pela via da sustentabilidade.
Ou seja, todo o jornal que é sustentado em grande medida pelos seus
proprietários
– sejam eles chamados de mecenas ou de investidores – acabará por ser, mais tarde ou mais cedo,
um meio para chegar a um fim, que colocará, irremediavelmente, em causa a
credibilidade e a verdade do que é feito e transmitido. Como é costume dizer-se
agora: “Não há” – infelizmente, pensamos nós – “almoços grátis!”.

Os nossos assinantes e
anunciantes responderam de uma forma espantosa ao apelo que recentemente lhes
foi feito no sentido de ajudar o projeto Jornal da Mealhada. De uma forma
generalizada souberam dizer sim, foram capazes de estimular, regularizando a
situação das assinaturas – que, sendo uma obrigação simples não terá sido fácil
para muitos – e participando na campanha de Natal de 2011, que se revelou acima
do que estaríamos à espera, dadas as condicionantes da época. Os nossos
milhares de assinantes e os nossos muitos anunciantes foram um forte apoio para
que, neste momento, informemos os nossos leitores de uma paragem (que não deixa
de ser forçada, entenda-se) por um período de um mês, e não de um final ou de
uma suspensão definitiva.

Não desistimos, nem vamos desistir, enquanto nos for demonstrado
como tem sido nas últimas semanas e meses – que o Jornal da Mealhada é querido e estimado, aguardado e considerado,
valorizado e determinante para o progresso coletivo das gentes do concelho da
Mealhada
– os naturais deste torrão de verde e ouro no sopé do Bussaco, ou
nele residentes.

Nos primeiros dias de fevereiro
de 2012, voltaremos ao seu contacto, através da edição impressa (porque
continuaremos até lá na edição on-line). Frescos e preparados para o futuro.
Com novos produtos, novas formas de divulgação da informação e, também, com
novas ferramentas de intervenção. Mais fortes do que nunca, estimulados e conscientes de que, enquanto houver estrada
para andar, é nossa obrigação, é nossa missão, continuar. Não por nós, mas por
todos.

Editorial do Jornal da Mealhada de 28 de dezembro de 2011
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