O Governo parece querer confiar no Povo, mas não conhece o Povo.

Ou será que Costa não consegue perceber a psicologia de massas em pandemia?

O Governo entusiasmou-se com o Grande Confinamento – 1.ª Parte -, o Confinamento do Medo. Os portugueses, cheios de medo, portaram-se bem. E os efeitos viram-se com relativa rapidez. O Governo falhou ao legislar, com demasiadas exceções, ao comunicar, com instruções contraditórias.  

O Governo desconfinou mal. Precipitou-se, criou sistemas confusos e deu a entender ao Povo de que a coisa tinha passado e corrido bem. Os portugueses amam ouvir falar do ‘Milagre Português’.

Incentivou-se a ir de férias e fazermos todos um Verão cá dentro – lá fora não havia milagres – e foi o Povo fazer a EN2. Ainda deu para ir ao Avante. Ainda deu para acreditarmos que a Escola ia começar em Setembro de 2020 como se nada tivesse acontecido desde Março.

E voltámos ao drama… O drama de uma segunda vaga: ‘Estamos a pagar os erros do Verão!’ Afinal o calor não mata o vírus. O Governo quis premiar os portugueses com férias para descomprimir. O Governo quis compensar. Não correu bem.

E foi sempre a crescer. Sempre. Entrámos na fase da Negação, dos negacionistas e dos negacionismos. Vivemos um Novembro com Novo Estado de Emergência. Com crescimentos sucessivos. Com mais mortos, mais infetados, ruturas no Serviço Nacional de Saúde. Com sacrifícios sucessivos. Salvar o Natal, foi dito. Sacrificar hoje para termos Natal. Nada. Chegámos ao Natal a crescer. Mas o Governo quis premiar os portugueses com Natal para descomprimir.

E com vacinas a chegar para resolver definitivamente o assunto, o Governo quis compensar para logo a seguir declarar, com a vacina, o fim da pandemia. Está quase! Infetar agora é morrer na Praia. Talvez até dê para fazer o Carnaval em Fevereiro. Em Março, um ano depois, pegaremos na vida onde a deixámos 365 dias antes. Mas não foi assim. Não correu bem.

Acredito que na passagem do Ano os portugueses com a iminência de isto acabar puderam exteriorizar que estavam fartos. Vimos gente a ser vacinada e demos Graças a Deus, e nas graças pudemos dizer o que sentíamos: ‘Estamos fartos dito! Fartos! 

Acredito que nesse grito entrámos na fase negra do negacionismo. Pode ter ajudado a iminência de eleições presidenciais e o janeiro dos debates que criaram um coro de críticas que ressoou na cabeça das pessoas. 

Mas afinal o drama escalou… Estaríamos numa terceira vaga? Entrámos numa torrente, ultrapassou-se a barreira dos 100 mortos por dia, e logo a seguir dos 200 e até dos 300. ‘Estamos a pagar os excessos do Natal!’ Afinal não havia condições para ter acalmado nesses dias. O Governo quis premiar os portugueses com Natal para compensar todos os 9 meses de sacrifícios. O Governo quis premiar. Não correu bem.

E olhámos para um novo Grande Confinamento de soslaio. Era a segunda parte: O Confinamento da Desilusão. Em Janeiro os portugueses não são os mesmos de Março. Os portugueses já não estão cheios de medo. Os portugueses têm dúvidas: Duvidam dos números, duvidam das consequências, portaram-se bem e nada se resolveu. Que se lixe: Vou usar as exceções. Não vou levar um filho à escola e confinar. Se os meus filhos arriscam é cobarde ir eu para casa!

Novo Confinamento a uma quinta-feira. E o Governo percebeu que os portugueses o mandaram à fava com o novo confinamento. No sábado mostrámos que temos o direito a resistir, temos o direito à indignação. E o Governo percebeu que alguma coisa não estava a correr bem: Até os mais cautelosos – que quiseram votar antecipadamente – estavam a refilar. Talvez tenhamos que clarificar as regras… as pessoas não as cumprem porque há 52 exceções neste Confinamento da Desilusão… E na terça-feira o Governo clarifica… e até premeia: Os ATL podem abrir, as escolas não podem fechar e as crianças até vão ser rastreadas na escola. 

E ontem, quarta-feira o Governo percebeu que nada aconteceu. Percebeu que o Confinamento da Desilusão era de pólvora seca numa multidão de surdos. No dia em que os números deviam ter descido qualquer coisa, como em Março, eles batem novos recordes.

Vamos fechar as escolas amanhã. Sem mais. É o que toda a gente quer. Assim seja! Mas já é só desespero. O homem que está a conduzir este carro está cego.

O Governo falhou ao legislar, com decretos a sair depois da hora em que a regra entra em vigor, com demasiadas exceções. O Governo falhou ao comunicar, com instruções contraditórias, com bizarrias incompreensíveis.

Hoje sinto inveja dos americanos. Não por causa de terem mudado de Governo, porque em Portugal nenhum partido consegue acertar na sentença: O PSD esteve ao lado do Governo em tudo, até na trapalhada das escolas, e todos os outros partidos se criticaram e votaram contra as medidas até agora foi porque as acham excessivas. Todos. E está visto que não: Não foram excessivas. Foram brandas para a situação. 

Hoje sinto inveja dos americanos. Porque conseguem marcar um antes de ontem e um amanhã. Conseguiram fazer reset. Oiço o Fauci na CNN: O mesmo Fauci consegue justificar na TV que a partir de agora pode dizer as coisas com Liberdade e que pode dizer coisas diferentes.

Nós precisávamos que na segunda-feira, depois das presidenciais, Marcelo sentasse Costa na mesa redonda e lhe dissesse: Vamos dar um nova oportunidade à relação que temos com os portugueses. Vamos fazer as coisas diferentes: Com Verdade, sem joguinhos de cenoura e chicote, sem meias tintas. Vamos dar um porradão neste vírus, para aguentarmos até ele morrer.

Os portugueses gostam de verdade. E aceitam sacrifícios quando sentem que há verdade no que lhes é pedido. Quando sentem que há verdade. E hoje não o sentem. Não sentem medo, não sentem dúvidas de que isto é a sério, não sentem desilusão, não sentem firmeza, não sentem confiança, não sentem esperança.

Estamos prestes a entrar na fase do Desespero.

 [2470.] ao #15277.º